Não sejamos do tempo apenas porque inerente a ele está aquilo a que chamamos viver. Sejamos o tempo, no seu mais puro sentido. Dar-lhe razão. Fazê-lo sentir que vale a pena existir. Ser mais. dar mais. Ter mais. querer mais. Não parar só porque foi diferente do que idealizamos. Continuar. Dar voz ao sentido do tempo. Ser vontade de caminhar para a frente, ao invés de ficar presa a um passado que passou.
Não venhas assim, numa de faz de conta. Não penses que chegas e me arrebatas. Os tempos mudaram. Não sou mais "a camisa branca sensual". Hoje, sou a Mulher. Que domina. Que te resiste. Que te seduz. Que te fecha a porta na cara. Que te demonstra que sem ti também respira. Que caminha. Que não se trata apenas de sobreviver, mas viver a vida. Mais do que quando era a tua. Percebe que hoje, viver sem ti é mais fácil do que viver para que estejas presente. Já não preciso de ti, aqui, para sorrir. Preciso apenas de mim. Hoje, sei o sabor da liberdade. Por não te ter e por não te querer mais. Podes voltar, podes ir. Quando quiseres, quando bem te apetecer. Vou estar aqui de qualquer maneira, mas não serei eu a dar-te o resto da vida. Nem tão pouco o mundo. Mudei de rumo. Dar-te-ei o instante, se tivermos essa necessidade. Atos do momento. Nada mais do que isso. Nada mais.
Ai esse olhar que me deixa à toa. Essa distância que me transforma em contador de quilómetros. Como se a cada passo que dou me sentisse mais perto de ti. Não quero ser a ausência que desapega. Quero a distância que fortalece. Que aproxima. Que mesmo não estando "aqui e agora", está presente. Sempre. Por cada caminho que traço, quero voltar. Voltar ao meu porto de abrigo. Ao lugar que é só meu. Ao carinho. Ao aconchego. A tudo o que não quero que deixe de ser meu. Só meu. Egoísmos à parte, quero que o tempo voe, sempre que eu não estiver. E que trave quando eu chegar. Quero ser a vontade em cada regresso. Quero o melhor de cada momento.