«O que distingue os felizes dos outros é a força da sua condenação, todos estamos condenados a morrer, mas poucos a viver, há que saber articular o que tem de ser no interior do que temos, encontrar espaço, adaptar o que tem de ser ao que não podia ser, conseguir passar ileso é uma utopia, temos de saber que vai doer e ir na mesma, ir ainda mais, os momentos de felicidade são só aqueles em que acontece o que não podia acontecer, mas tem de ser.»
Li este excerto, há cerca de um mês, num livro do Pedro Chagas Freitas. Confesso que me marcou. Pela sua veracidade, mas também crueldade. Porque dói. E o que dói, é cruel. Dizem. Dói fugir da rotina, daquilo que queremos que seja, para aquilo que tem de ser. Quantas vezes a felicidade não é o que pensamos ser. Não está ao virar da esquina, está a infinitos quilómetros de distância. Mas não há nada que supere o seu sabor. É bom chegar até ela. Ao destino. As feridas que saram, mas deixam cicatriz... são parte do orgulho de um percurso. São marcas de que valeu a pena. Importa chegar, mais do que tudo. Importa sentir a felicidade. Tem de ser, naquilo que acontece. Chegamos longe, por mais curto que o caminho pareça. Magoados ou ilesos, fingimo-nos fortes. Na verdade, somos. Mas "shiu", há coisas que ficam só para nós. Há uma felicidade apenas nossa, e há outra - a que partilhamos com quem nos quer bem.